Servidores do Detran-MS relataram que estão sendo pressionados por uma empresa privada a incentivar os proprietários de veículos a parcelar suas dívidas, com o objetivo de aumentar os lucros oriundos dos juros cobrados.
O parcelamento de débitos foi introduzido no Detran-MS em dezembro do ano passado, permitindo que os usuários possam dividir suas dívidas no cartão de crédito com um atendente em qualquer agência. As transações de crédito são realizadas por meio de máquinas fornecidas pela Potencial Tecnologia Ltda, empresa terceirizada pelo Banco do Brasil, que tem um convênio com o Detran-MS. Os juros aplicados podem chegar a 27,05% ao ano, valores considerados excessivos pelos usuários.
Funcionários que atuam nas agências relataram à reportagem que a Potencial oferece incentivos financeiros a gerentes para aumentar o número de operações de parcelamento, uma prática que gera maiores lucros devido aos altos juros.
Um e-mail da gerente regional da Potencial, Sandra Marques, agradece a “colaboração” dos servidores e menciona uma “pequena queda na produção de crédito” nas agências. Ela solicita que os funcionários ajudem a aumentar as operações de crédito e admite que tem metas a cumprir. Em uma gravação, Sandra afirma que está em constante comunicação com os gerentes, mas nega que isso constitua pressão.
Os servidores expressam indignação ao se sentirem como se estivessem trabalhando em benefício de uma empresa privada. Um deles questionou a razão pela qual uma parte significativa dos juros é direcionada para uma empresa em vez de ser revertida para o serviço público.
O Sindicato dos Servidores do Detran-MS também protocolou uma queixa formal sobre a utilização dos servidores para atividades que não são suas atribuições. Até o momento, a diretoria do Detran-MS não respondeu ao ofício. O presidente do sindicato indicou que os servidores não são obrigados a realizar o parcelamento, destacando que isso pode ser um desvio de função.
Por sua vez, o diretor-presidente do Detran-MS afirmou que não há ligação direta com a empresa e que a situação será investigada. A Potencial não respondeu ao pedido de comentários até o fechamento da matéria, mas a equipe permanece disponível para ouvir suas alegações.